O uso da tecnologia no comércio exterior se mostra um fator cada vez mais imprescindível para manter a competitividade. Por sua vez, esse fenômeno ocorre sobretudo em períodos incertos, como os recentes descompassos na cadeia global de suprimentos e demandas, em diferentes gêneros de mercadorias.
Dessa forma, investir em inovações para desburocratizar processos é uma forma eficaz de contornar os obstáculos atuais. Ao mesmo tempo, essa movimentação prepara os envolvidos para a retomada da normalidade, esperada no futuro.
É neste cenário que tecnologias emergentes, como a blockchain, a Inteligência Artificial (IA) e a Internet das Coisas (IoT), aumentam a eficiência e a inclusão no comércio internacional.
Afinal, na prática, essas soluções permitem que empresas de portes variados possam negociar com nações estrangeiras. Sem contar que também reduzem as lacunas e disparidades entre países com diferentes níveis de desenvolvimento.
Neste artigo, compreenda as soluções e inovações que compõem as tradetechs, tecnologias aplicadas à logística e às negociações internacionais. Siga com a leitura e veja também:
- Panorama atual do comércio internacional
- Conceito de tradetech
- Principais soluções tecnológicas no segmento
- Aplicações da tecnologia no Comércio Exterior
Panorama atual do comércio internacional
Nos últimos anos, as cadeias de suprimentos globais enfrentaram desafios contínuos. Em 2020, a pandemia da COVID-19 resultou em pressões sem precedentes no setor. Interrupções logísticas, falta de semicondutores e aumento dos preços da energia contribuíram ainda mais para a escassez de produtos e oscilações nos custos de transporte.
Como resultado, grandes empresas passaram a focar na melhoria da confiabilidade e na atuação na gestão de riscos em sua rede de fornecedores. Ainda assim, os atrasos continuaram constantes.
Apesar dos inúmeros desafios enfrentados, o comércio mundial de bens permaneceu forte em 2021 e o de serviços retornou aos níveis pré-COVID no mesmo ano, como mostra o relatório Global Trade Update 2022, divulgado pela United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) em fevereiro de 2022.
Segundo o relatório, o valor do comércio global atingiu nível recorde, de US$ 28,5 trilhões em 2021, o que representa um aumento de 25% em relação a 2020, e de 13% comparado a 2019, antes da pandemia.
Perspectivas para 2022
Apesar de certa retomada em 2021, o crescimento do comércio internacional em 2022 provavelmente será menor do que o esperado. Isso se deve, principalmente, às tendências macroeconômicas, apontadas pelo Fundo Monetário Internacional.
Em fevereiro de 2022, o FMI revisou para baixo sua previsão de crescimento econômico mundial em 0,5 pontos percentuais, de 4.9 para 4.4%. A informação, que parte do relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), também aponta que a revisão se deu por conta da inflação persistente nos Estados Unidos e de preocupações relacionadas ao setor imobiliário da China.
O mesmo estudo aponta, ainda, interrupções logísticas em andamento e o contínuo aumento dos preços da energia. Os esforços corporativos para reduzir as cadeias de suprimentos e diversificar a carteira de fornecedores também podem afetar de forma significativa o comércio internacional durante 2022.
Além disso, é esperado que os padrões comerciais em 2022 reflitam a crescente demanda global por produtos de menor impacto ambiental.
Por fim, o relatório também sinaliza para os níveis recordes da dívida global. Além disso, há um alerta de que as preocupações com a sustentabilidade da dívida ficarão mais intensas devido às crescentes pressões inflacionárias.
Brasil: queda nas exportações de manufaturados
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, os números do comércio exterior brasileio fecharam em 2021 apontando a soma recorde de exportações e importações, no valor de US$ 499,8 bilhões. Divulgada em janeiro de 2022, a nota ainda revela um superávit nas contas públicas, de US$ 61 bilhões.
Ainda segundo o órgão, houve recorde nas exportações, totalizando US$ 280,4 bilhões. As importações chegaram a US$ 219,4 bilhões, no quinto melhor resultado da série histórica, que teve início em 1989.
Adicionalmente, conforme dados do G1, a China permaneceu como a principal parceira comercial do Brasil, com 31,28% das exportações do país em 2021. Outro dado relativo ao setor é que soja, minério de ferro e petróleo representaram 40% do que foi exportado pelo país.
Entretanto, isso também é motivo de preocupação, considerando o cenário previsto pelo Global Trade Update 2022, da UNCTAD, mencionado anteriormente.
Segundo projeções do documento, uma tendência relativa aos fluxos comerciais é o crescimento da regionalização, por conta de acordos e iniciativas locais, aumentando a dependência de fornecedores mais próximos geograficamente.
Além disso, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) ressalta a marginalização do Brasil no panorama global de exportações de manufaturados. Segundo o órgão, de 2019 para 2020, o país caiu da 34ª para a 35ª posição no ranking da Organização Mundial do Comércio (OMC), dos maiores exportadores desses bens.
Tradetech: tecnologia a serviço da logística e comércio internacionais
Em um cenário desafiador como o que se apresenta no comércio internacional, contar com o apoio da tecnologia é essencial. Dessa forma, os fluxos comerciais se mostrarão mais eficientes, inclusivos e equitativos.
Aliás, esse é um dos principais objetivos do tradetech. Em linhas gerais, o conceito se refere a um conjunto de soluções tecnológicas e inovações usadas no desenvolvimento de parcerias que co-criarão normas e políticas para incorporação de tecnologias emergentes no comércio internacional.
Tecnologias disruptivas estão mudando modelos de negócios, reconfigurando cadeias de valor, aumentando a eficiência e apoiando as empresas no alcance de resultados mais sustentáveis.
Além disso, atuam diretamente na inclusão de negócios de menor porte no comércio internacional. No entanto, uma preocupação é garantir que a TradeTech funcione para todos, trabalhando a serviço da sociedade.
Entre os principais benefícios do uso da tecnologia no comércio exterior estão:
- Ganho de eficiência com a colaboração de diferentes partes do processo
- Surgimento de novos produtos e serviços digitais
- Impacto positivo no ecossistema de trade, com a inclusão de negócios de menor porte no setor
Níveis de digitalização de tradetech
De acordo com o relatório executado pelo World Economic Forum, Mapping TradeTech: Trade in the Fourth Industrial Revolution, de dezembro de 2020, o conceito moderno de tradetech se divide em duas camadas.
Na primeira delas, dados comerciais são transformados do modelo analógico para o digital. Na segunda , a otimização e sincronização dos processos relativos ao comércio internacional acontece em diferentes partes. Aliás, é nessa etapa que tecnologias emergentes ocupam papel central.
Soluções de tradetech funcionam em pacotes. Assim como a segunda camada depende obrigatoriamente dos dados gerados na primeira, é também difícil separar soluções como Inteligência Artificial (AI) de robótica, e a Internet das Coisas (IoT) da conectividade 5G.
Do análogo ao digital
A primeira camada de tradetech diz respeito a um primeiro nível de transformação dos sistemas internos e dados do analógico para o digital. Por isso, essa etapa é essencial para agilizar os processos relativos ao comércio exterior. Entre ações mais relevantes estão:
- Converter documentos em papel em arquivos digitais
- Usar sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) para Compras e Finanças
- Utilizar CRM (Customer Relationship Management) para desenvolvimento de negócios
Cooperação entre diferentes partes do ecossistema de trade
Na segunda camada do tradetech, acontece a otimização e a sincronização dos processos entre diferentes partes. Isso só é possível, aliás, graças a novas tecnologias e, ainda, à conectividade.
O segundo nível de tradetech envolve a transformação de processos e só é possível com o uso dos dados gerados na primeira camada. Dessa forma, é possível aprimorar as operações comerciais.
Tecnologias da Indústria 4.0 são partes essenciais dessa segunda camada, atuando em conjunto. Serviços de IA dependem de Cloud Computing enquanto o uso extensivo de Internet das Coisas (IoT) só se torna realidade com uma 5G potente.
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Soluções tecnológicas e seus usos no comércio exterior
Appification
Appfication ou, então, uso de aplicativos mobile em processos que envolvem diferentes partes. Como, por exemplo, um app de rastreamento para gerenciar motoristas terceirizados que fazem parte da entrega de mercadorias em cadeias de suprimentos.
IA e Machine Learning
Tanto a Inteligência Artificial quanto o Machine Learning (aprendizagem de máquina, em português) podem ser usados para manutenção preventiva, otimização de processos e previsão de demanda e oferta de mercados internos e externos.
Além disso, as soluções podem atuar na integração de tarefas e, ainda, em auditoria de risco intelligence-driven nas cadeias internacionais de suprimentos.
IoT
A Internet das Coisas pode ser usada no Comércio Internacional para rastreamento detalhado de mercadorias e outros ativos. E, também, no monitoramento de segurança e condição dos ativos.
5G
A tecnologia 5G tem sido usada para o gerenciamento da operação nos portos e para a transmissão de vídeos em alta definição. Além disso, potencializa o uso das soluções de IoT e a aplicação de inovações como Realidade Virtual (RV).
Blockchain
A tecnologia é usada para aumentar a transparência e confiabilidade entre as diversas partes que integram a cadeia de suprimentos. A blockchain também apoia as transações financeiras.
Veículos autônomos e robótica
Manutenção de infraestrutura, entrega e monitoramento de armazéns estão entre as áreas beneficiadas pelo uso das tecnologias.
Como a tecnologia otimiza o comércio exterior
Na prática, o uso da tecnologia no comércio exterior ainda tem muito espaço para crescer e apoiar os negócios que atuam com exportação a evoluírem e, portanto, conquistarem mais agilidade.
Nesse sentido, a iniciativa Integra Comex, serviço que automatiza processos de exportação, importação e gestão de carga lançado pela Serpro em maio de 2020 está alinhado com o conceito de tradetech.
A solução, que é voltada para operadores portuários, como transportadoras, faz a organização e a disponibilização de dados em tempo real. Informando sobre as operações de importação em contratos e, assim, oferecendo mais agilidade e segurança para os agentes envolvidos.
Com incorporação aos sistemas do operador portuário, como depositários e signatários, o serviço ainda possibilita a realização de até 19 consultas em plataformas do Governo, como o Siscomex Carga, por meio de um acesso único e centralizado.
Esse, inclusive, é seu principal atributo para desburocratizar o processo.
Ainda no escopo da simplificação, o uso de chatbots é outra tendência a se observar para o comércio internacional. Com o apoio da Inteligência Artificial, clientes terão a possibilidade de acompanhar o status das cargas em tempo real.
Ao mesmo tempo, estarão gerando dados que, no futuro, poderão ser aproveitados para aprimorar sua experiência no uso dos serviços.
Tecnologia para conhecer a carga
Conhecer a carga transportada é outra tendência no mercado de comércio internacional, principalmente para evitar tragédias como incêndios e explosões em portos, como aconteceu no Sri Lanka, em 2021.
Nesses casos, a tecnologia pode ocupar um papel central para garantir que a carga transportada é a mesma que foi declarada na documentação.
Para isso, é possível usar não só usar sensores e dispositivos inteligentes, mas conjugá-los a ferramentas como smart contracts (contratos inteligentes), checagem compulsória e uma plataforma segura na nuvem.
Por sua vez, os dados resultantes podem ser utilizados pelas diferentes partes envolvidas, como Governo e transportadora, para gerenciar possíveis riscos.
Além disso, a IoT pode disponibilizar, em tempo real, dados sobre a condição física de uma remessa em trânsito. Isso, na prática, oferece visibilidade em toda a cadeia de suprimentos.
Ao final, é possível detectar perdas, danos e atrasos de forma instantânea, levando a uma ação rápida para mitigar perdas.
IA para gestão de incidentes
Já tecnologias como IA, Machine Learning e a automação, como um todo, podem fazer a diferença na gestão de incidentes. Isso porque quando algo acontece em alguma etapa da cadeia de suprimentos, a limitação de acesso à informação pode tornar a resposta lenta e ineficaz.
Ao usar soluções de IA conjugadas com Big Data, é possível aprender sobre o incidente e evitá-lo no futuro. Ademais, o uso de IA no Comércio Exterior também apoia as empresas a partir do momento que ajuda a garantir a conformidade com a legislação local.
A blockchain é uma tradetech que possibilita que informações e transações sejam compartilhadas a nível global. Dessa forma, os registros não só são permanentes como, também, auditáveis para diferentes partes.
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Conclusão
O uso da tecnologia no comércio exterior é uma forma de conquistar mais agilidade e competitividade para, assim, vencer os desafios impostos no mercado internacional. Adicionalmente, diante do atual cenário de instabilidade e incerteza, é ainda mais importante apostar em soluções para aprimorar as operações do setor.
Para além de contornar os desafios colocados, a inovação tecnológica também contribui para que as negociações internacionais sejam mais transparentes, seguras e ecologicamente sustentáveis.
Afinal, é a partir de soluções como a nuvem e a Internet das Coisas que se torna possível rastrear as cadeias produtivas com alta precisão. Tal capacidade, por sua vez, serve não só para atestar a integridade das mercadorias, mas também para avaliar a procedência e a conformidade dos bens, do ponto de vista ambiental.
Ciente de que esse mercado demanda tecnologias de ponta, a Vivo Empresas mantém um amplo e atualizado portfólio de produtos. Assim, é capaz de acelerar a digitalização mesmo em setores complexos, como o comércio internacional.
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