Os últimos anos expuseram a fragilidade da cadeia de abastecimento global e mudaram tanto a produção atual quanto as futuras tendências do agronegócio.
Com tantas transformações, o saldo é de que as empresas do ramo que apostaram na digitalização de seus processos se recuperarão mais rápido. Além disso, também já se preparam para novos desafios, como a instabilidade climática e a Guerra da Ucrânia, que afeta safras e pastos.
Consequentemente, outros elementos, até então pouco presentes, também dão sinais de que impactarão a rentabilidade do agro, como os novos hábitos de consumo. A cabo desse fator, há, ainda, a preocupação com a sustentabilidade, tanto nas prateleiras do mercado quanto por parte dos investidores, dentro e fora do Brasil.
Paralelamente a tudo isso, a busca por produtividade se mantém como uma constante, tal como a dependência dessa indústria em relação aos recursos naturais. Além disso, a tecnologia digital se aprimora e cria novas soluções para o setor responder aos desafios que virão.
Para entender melhor as futuras tendências do agronegócio, um dos principais componentes da economia brasileira, é essencial analisar o desempenho dessa vertical no passado recente, bem como compreender os obstáculos e as oportunidades que se apresentam.
Neste artigo, fique por dentro dos seguintes assuntos:
- Panorama do agronegócio
- Perspectivas econômicas para 2023
- Principais tendências para o futuro
- 4G e 5G: ampliação de conectividade é uma das tendências do setor
- Tecnologia é o futuro do agronegócio
Panorama do agronegócio no biênio 2021-22
Em 2021, o agronegócio brasileiro foi essencial para a retomada da economia nacional frente à retração provocada pela crise sanitária no ano anterior. Entretanto, o setor enfrentou algumas dificuldades neste ano, como questões climáticas e a Guerra da Ucrânia, as quais resultaram em uma leve contração econômica.
É isso que demonstra a publicação o PIB do Agronegócio Brasileiro, de setembro de 2022, produzida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Conforme aponta o documento, o PIB do setor apresentou um recuo de 2,48% no 1º semestre de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Ainda assim, o agronegócio se mantém essencial na composição da economia nacional. Se em 2021 a produção do campo representou 27,5% do PIB do país, a estimativa é que, em 2022, a participação da área na riqueza nacional seja de cerca de 25,5%, conforme o estudo do Cepea.
De acordo com os dados revelados pelo sistema CNA/Senar na Entrevista Coletiva – Balanço 2022 e Perspectivas 2023, o PIB do Agronegócio deve fechar o ano com uma queda de 4,1%.
Guerra da Ucrânia e questões climáticas foram os maiores obstáculos do setor
Segundo o Balanço da CNA, o grande fator que explica a retração econômica do agronegócio foi a Guerra da Ucrânia, que encareceu o custo de insumos importantes, como fertilizantes e defensivos, os quais aumentaram, em média, mais de 100% ao longo de 2022.
Com isso, o Custo Operacional Efetivo por safra de grãos foi um dos maiores dos últimos anos. Entretanto, o aumento não foi totalmente repassado no preço dos alimentos e commodities, o que fez a rentabilidade do produtor rural ser menor.
Além disso, questões climáticas como a estiagem na Região Sul e enchentes em Minas Gerais, na Bahia e em outros estados do Nordeste, afetaram a produção agrícola. Só na lavoura de milho e soja, a estimativa é que R$83 bilhões foram perdidos devido ao clima.
Perspectivas econômicas para 2023
Apesar das dificuldades do último ano, a perspectiva é que o agronegócio brasileiro volte a crescer em 2023. Questões macroeconômicas colaboram para essa previsão, como a estabilidade do aumento inflacionário e da taxa de juros em nível mundial nos últimos meses.
Além disso, a expectativa é que haja recordes históricos de produção no ano que vem. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), divulgado em novembro de 2022, a safra nacional de grãos, cereais e leguminosas deve alcançar 288,1 milhões de toneladas em 2023, um aumento de 9,6% em relação às estimativas do ano anterior.
O otimismo já se reflete no Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro). Após forte queda no 4º trimestre de 2021 e leves oscilações no 1º semestre de 2022, o indicador apresentou uma alta de 6,1 pontos no 3º trimestre, alcançando 116,3 pontos.
Entretanto, muitos desafios ainda persistem, principalmente no que se refere ao crescimento lento do mercado consumidor. Como a produção deve superar a demanda, a tendência é que o preço dos produtos agrícolas, de modo geral, não atinja patamares mais rentáveis ao produtor rural.
Dessa forma, conforme aponta o Balanço da CNA, um dos grandes desafios do agricultor é enxugar os custos de produção para melhorar o seu faturamento em 2023. Para a entidade, o PIB do setor deve apresentar uma alta de até 2,5% no próximo ano.
Principais tendências para o agronegócio em 2023
O cenário do agronegócio é uma mistura entre otimismo e cautela: há perspectivas de aumento da produção, porém com um mercado que ainda não se recuperou totalmente da pandemia de Covid-19 e que sofre os efeitos da Guerra da Ucrânia.
Além disso, mudanças como as apontadas no white paper Consumidor do Futuro 2024 da WGSN apontam que, cada vez mais, os consumidores estão preocupados com a origem dos alimentos e seus impactos ambientais. Esse é um ponto que os gestores do agronegócio devem considerar.
Diante desse quadro, cabe aos produtores rurais se prepararem para os desafios que virão. Desse modo, novas formas de gestão, governança, redução de custos e otimização das atividades produtivas são essenciais para a retomada do setor.
A tríade da confiança: transparência, qualidade e segurança
Cada vez mais, os consumidores e os investidores querem conhecer a origem do produto, se a produção seguiu as melhores práticas socioambientais e qual seu impacto. Ou seja, para manter a confiança no mercado, a rastreabilidade dos alimentos vem se tornando crucial para o agronegócio.
Essa possibilidade de identificar a origem já é um elemento importante, considerando que, quando há um problema de segurança alimentar, é necessário identificar a raiz o mais rápido possível. Agora, essa tendência do agronegócio ganha destaque em outros âmbitos, como o de sustentabilidade.
Soluções baseadas na Internet das Coisas (IoT), que permite o monitoramento em tempo real através de sensores inteligentes, são parte do sistema de rastreabilidade. Nesse sentido, a blockchain é muito utilizada, uma vez que descentraliza a informação, garantindo segurança aos dados armazenados nessa cadeia de produção.
Tais tecnologias dependem de uma estrutura robusta, com soluções de conectividade e eletricidade à disposição.
A busca pela sustentabilidade
A sustentabilidade já é uma questão de destaque no cenário mundial. No mundo dos investimentos, ela é representada pela sigla ESG, a qual compreende as melhores práticas nas esferas ambiental, social e de governança. De modo semelhante, esse será um dos grandes desafios do agronegócio brasileiro daqui para frente.
Sobretudo, para ser sustentável, é fundamental otimizar a cadeia de produção, ou seja, buscar modelos de cultivo que consumam menos recursos como água e energia elétrica, como no modelo da irrigação inteligente.
Ao mesmo tempo, o conceito também compreende a realização de uma gestão mais eficiente de insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas. Isso reduz gastos e o impacto ambiental, tornando a produção mais consciente e responsável ecologicamente.
Nessa perspectiva, uma das grandes tendências da agricultura sustentável é o slow food, cujos pilares são uma alimentação boa, limpa e justa. Esse movimento defende a produção com o mínimo de impactos ambientais, o que inclui a integração entre produtor e comunidade local, a fim de reduzir o gasto energético com transportes.
Para isso, uma produção conectada pode ajudar no uso inteligente de recursos. Sensores e equipamentos IoT, por exemplo, trazem informações sobre a umidade e quantidade de nutrientes do solo ou ainda quanto à previsão do tempo. Esses dados permitem um planejamento das atividades, a fim de realizá-las nas melhores condições e apenas onde for necessário.
A longo prazo, esse histórico de informações vira insumo para soluções de Big Data. A tecnologia atua na análise da produtividade ao longo do tempo e informa ao produtor o melhor caminho para a próxima safra.
A precisão dos drones agrícolas
O uso de drones agrícolas tem crescido vertiginosamente ao redor do mundo. De acordo com o relatório Agriculture Drone Market, produzido pela Allied Market Research e publicado em julho de 2021, estima-se uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) do setor de 22,4% entre 2021 e 2030.
Esse equipamento possui uma série de utilidades que geram enormes benefícios ao produtor rural. Isso inclui a otimização do processo de mapeamento aéreo da propriedade, a precisão na pulverização, o controle a distância do rebanho, entre outras tarefas.
Dessa maneira, drones agrícolas contribuem para a economia de tempo, redução da mão de obra, aumento da produtividade e diminuição de desperdício de insumos.
4G e 5G: ampliação de conectividade é uma das tendências do agronegócio
A conectividade é peça central para grande parte das inovações e tendências do agronegócio. No cenário atual, o 4G corresponde a 78,1% das conexões móveis no Brasil, segundo o painel de outubro de 2022 publicado pela Anatel. Em seguida, vem o 2G, com 10,3%, e o 3G com 9,8%.
No início de seu processo de implementação no país, o 5G representa, até o momento, 1,7% de toda a tecnologia de telefonia móvel brasileira.
A 5ª geração promete mais velocidade, menor tempo de resposta e mais resiliência no acesso à internet. Na agroindústria, por exemplo, a tecnologia irá viabilizar operações autônomas, sistemas de missões críticas (que são aqueles que não podem ser interrompidos) e a expansão das redes IoT.
Embora essa tecnologia ainda não alcance as áreas rurais em 2023, a expansão da infraestrutura nacional das telecomunicações proporcionará a interiorização da conexão 4G pelo país, o que melhora substancialmente a produtividade do setor.
Conforme o estudo Cenários e Perspectivas da Conectividade para o Agro, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em novembro de 2022, a expansão da conectividade no ritmo atual dará um aumento agregado no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$79,6 bilhões até 2026.
4G atende à demanda
A realidade é que o 4G evoluiu muito no país e já possibilita muitas das ações mencionadas e que tornam a agricultura de precisão uma realidade que pode ser aplicada por diversos produtores rurais.
Para exemplificar, uma entrevista com Gregory Riordan, presidente da Associação ConectarAgro, realizada pelo Globo Rural, traz um caso real do poder da fazenda conectada. Riordan explica que uma propriedade de 1.500 hectares no Mato Grosso conseguiu um retorno de R$ 266 mil por ano através da conectividade.
Conexão no campo
Atualmente, a conectividade nas áreas rurais depende das redes Narrowband-IoT, ou NB-IoT, e da LTE-M, uma versão do 4G desenvolvida para consumo energético reduzido.
A princípio, a NB-IoT é focada em aparelhos de baixa complexidade, como sensores. Ela consegue otimizar o consumo de energia, que é um problema pertinente aos dispositivos conectados, e ainda melhora a cobertura na área.
Já a LTE-M compartilha alguns benefícios com a NB-IoT, como a bateria de longa duração e o baixo custo. Só que ela tem um alcance de 100 km e uma transmissão de dados de 1 Mbps, ou seja, oferece uma conexão mais poderosa. Isso a torna ideal para atuar no rastreamento de veículos e maquinário pesado, como tratores.
Tecnologia é o futuro do agronegócio
Sustentabilidade, transparência, redução de custos e produtividade são os principais desafios e, ao mesmo tempo, tendências do agronegócio. Na verdade, a tecnologia disponível hoje nas fazendas consegue auxiliar muitos produtores a seguir essas diretrizes que guiam o futuro do setor.
Uma propriedade interconectada, com sensores e equipamentos IoT que captam dados sobre as atividades, fornece ao produtor uma completa visualização do seu processo produtivo. Essas informações armazenadas em Cloud e analisadas via Big Data, mostram insights que nem sempre seriam óbvios para o olho humano.
Certamente, é a partir do monitoramento inteligente e da mensuração das atividades agropecuárias que o setor conseguirá chegar no patamar de produtividade necessário. É com apoio nessa estrutura que melhorias podem ser aplicadas de forma precisa, gerando produtividade de modo sustentável.
Nesse sentido, a Vivo Empresas pode ajudar, com um portfólio completo de soluções para o agronegócio, que atuam na digitalização de ponta a ponta da área.
Conheça mais sobre como os recursos tecnológicos podem auxiliar o setor:
- Futuro do agronegócio: gestão para o alto desempenho é essencial
- Carne cultivada e o impacto na agropecuária
- Sensoriamento remoto: entenda o que é e os principais usos na agricultura
Até a próxima!