Limitar as emissões de gases de efeito estufa é, cada vez mais, uma prioridade para as empresas, seja para cumprir metas socioambientais ou atender a demandas governamentais. Para atingir esse objetivo, grandes organizações mundiais tiveram uma atenção especial com os créditos de carbono. Esse ativo financeiro é usado para compensar o CO₂ emitido nas operações, e está cada vez mais popular.
Entender esse mercado é um passo importante para aproveitar a oportunidade de negócios, pois a meta ecológica é transformada em um negócio lucrativo. Há, hoje, startups que negociam esse ativo com empresas no Brasil. Entenda mais do assunto e também:
- O que são e como surgiram os créditos de carbono
- Como está o mercado de carbono no Brasil
- Como apostar nessa tendência atualmente
- Qual o papel da tecnologia neste cenário
O que são créditos de carbono
Em linhas gerais, um crédito de carbono é uma espécie de licença que equivale a 1 tonelada de CO2 retirada da atmosfera. Ele pode ser adquirido por qualquer pessoa. No entanto, o mais usual é que seja comprado por empresas que desejam compensar as emissões de suas operações.
A companhia pode adquiri-los do Governo, e, assim, conseguir a permissão para emitir CO₂. Na prática, isso quer dizer que a receita sai das organizações para os órgãos reguladores. No entanto, instituições também podem vendê-los para outras organizações privadas.
É um mercado em alta. Em 2021, chegou a valer quase US$ 1 bilhão, de acordo com relatório do Ecosystem Marketplace — publicação da Forest Trends, organização sem fins lucrativos, que atua pesquisando finanças ambientais.
Compensação de carbono: entenda o mecanismo
As compensações consistem em uma troca entre uma empresa que gera créditos (por conta da redução de gases do efeito estufa) e outra que precisa compensar o CO₂ emitido.
Ou seja, quando uma empresa remove uma unidade de carbono da atmosfera durante suas operações, gera, assim, uma compensação, que pode ser comprada por outro negócio, a fim de reduzir sua própria pegada.
Como surgiu o conceito
O conceito de crédito de carbono surgiu com o Protocolo de Kyoto de 1997, e, posteriormente, o tema fez parte do Acordo de Paris de 2015. Ambas as iniciativas internacionais estabeleceram metas globais de emissões de gases do efeito estufa.
Os acordos originaram, além das metas, regulamentos para garantir o cumprimento até a data prevista. Para atender a essas normas, as empresas tiveram que buscar formas de reduzir a crescente pegada em suas operações. Atualmente, a maior parte das soluções envolve o mercado com compensações e comercialização de créditos.
Tipos de mercado de carbono
Os créditos de carbono contam com dois mercados: primário e secundário, com focos diferentes. O primário consiste em desenvolver projetos para reduzir sua emissão. Já o secundário trata da sua comercialização como forma de investimento.
Dois grupos de compradores fazem parte do mercado secundário.
Um deles é formado por empresas que utilizam as licenças de emissão vinculadas aos créditos para, assim, conseguirem cumprir os regulamentos de controle, para atender à legislação internacional ou de seu país. O outro é composto por bancos e empresas de investimento, que os negociam como ativo financeiro, assim como fazem com outras commodities.
Os mercados de carbono também podem ser divididos em duas outras categorias: de compliance e voluntário. Os de compliance (ou de conformidade) são criados e regulados por regimes obrigatórios de redução de emissões, sejam eles nacionais, regionais ou internacionais.
Atuam neles empresas que precisam prestar contas de suas pegadas para atender a determinadas normas e cumprir a lei. Há cerca de 64 mercados de compliance operando no mundo, de acordo com relatório do Banco Mundial de maio de 2021. Eles cobrem mais de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa e geram US$ 53 bilhões em receita.
Já os mercados voluntários, como a própria nomenclatura indica, permitem que as empresas negociem os créditos de forma espontânea.
Relação entre empresa ESG e créditos de carbono
Muitos negócios que participam do mercado voluntário de créditos de carbono o fazem não para atender a algum tipo de regulamentação nacional ou internacional, e sim para atuarem alinhados com o conceito ESG: environmental, social and governance. Ou, em português, ambiental, social e governança corporativa.
Nesse contexto, reforça-se a importância de ter um compromisso sólido com a neutralidade em carbono, redução das emissões de gases de efeito estufa e, ainda, com o investimento em ações para desacelerar as mudanças climáticas.
Segundo a pesquisa Global Consumer Insights Pulse, realizada pela PwC em 2021, 63% dos brasileiros responderam que organizações que mostram ter preocupação com a proteção do planeta são preferidas em suas decisões de compra.
De fato, entender como funciona esse mercado e investir em iniciativas ligadas ao tema traz alguns importantes benefícios para empresas de todos os portes. Dentre eles:
- colaborar com a comunidade local a partir da compra de créditos de carbono, além de ter atuação ativa no desaceleramento de mudanças climáticas;
- alcançar maior visibilidade ao fazer parte de um mercado promissor, atraindo a atenção de potenciais investidores e parceiros;
- consolidar a reputação como empresa socialmente responsável, apoiando na conquista de novos clientes, além de agregar valor aos produtos e serviços.
Como está o mercado de carbono no Brasil
Os créditos de carbono são uma espécie de produto financeiro no mercado, e podem ser comprados ou vendidos. No entanto, cada país tem sua própria legislação para regular as negociações desse ativo. No Brasil, o conceito é regulamentado pelo Decreto nº 5.882 de 2006. Nesse sentido, são comercializados de acordo com as normas previstas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Atualmente, o Projeto de Lei nº 528/21, que institui o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), que regulará a compra e venda de créditos no Brasil, está em tramitação na Câmara dos Deputados.
A proposta também estipula um prazo de cinco anos para o Governo regimentar o programa nacional obrigatório de compensação de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
O texto será voltado para empresas ou governos que não têm as metas obrigatórias de redução de GEE, mas querem compensar o impacto ambiental das operações. As entidades poderão negociar e realizar investimentos em projetos que tenham como objetivo a redução das pegadas.
Geração de créditos de carbono no Brasil
De acordo com estudo realizado pela ICC Brasil em parceria com a consultoria WayCarbon, que tem foco exclusivo em sustentabilidade e mudança do clima na América Latina, o potencial de geração de receitas com créditos de carbono até 2030 para o Brasil pode chegar a US$ 100 bilhões.
Segundo as instituições, isso representaria 1 gigaton (1 bilhão de toneladas de CO2 equivalentes) ao longo dos próximos 10 anos para os setores de agronegócio, floresta e energia. De acordo com o ICC Brasil, braço local da Câmara Internacional de Comércio, em comparação, registrou-se no mundo mais de 14.500 projetos, que corresponderam à geração de quase 4 gigatons de CO2 de créditos até 2020.
Como apostar no mercado de créditos de carbono
Os benefícios de entender o funcionamento e investir em ações para aproveitar essa tendência são muitos. Mesmo um pequeno negócio pode atuar nele, como muitos agricultores já fazem. É possível entregar certificados digitais para compradores e fazer a plantação de árvores com o dinheiro arrecadado, entre outras ações.
Já as grandes empresas, em contrapartida, muitas vezes, compram créditos de carbono por conta de ações de sustentabilidade e para atuarem alinhadas com ESG. E, também, pelo fato de esse produto financeiro ser um mecanismo reconhecido globalmente para compensar emissões.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, vai adquirir até R$ 10 milhões em créditos de carbono, priorizando títulos de reflorestamento, energia e a redução de pegadas de carbono provenientes de desmatamento e degradação florestal (Redd+).
Empresas como Amazon, Google, Microsoft e Unilever formaram em 2021 a Business Alliance for Scaling Climate Solutions. A iniciativa concentra-se na melhoria das soluções climáticas e, especificamente, em garantir que os créditos reivindicados pelas organizações participantes realmente representem reduções ou remoções de CO2. A aliança criou, ainda, um documento que explica o básico sobre o tema para negócios.
O papel da tecnologia no mercado de créditos de carbono
A tecnologia é essencial para o alcance da neutralidade de carbono. Startups desempenham papel importante, funcionando, muitas vezes, como intermediárias nesse mercado. A Moss, por exemplo, é uma das pioneiras. A empresa conecta produtores rurais com organizações que querem compensar sua emissão de CO2. São apenas três passos: com o apoio da empresa, que se define como uma climatech, o negócio calcula sua pegada, em seguida, compra créditos para compensar e, por fim, pode compartilhar o certificado e selo oficial da Moss.
Além do papel importante das startups nesse cenário, tecnologias como Internet das Coisas (IoT) e Cloud Computing também fazem a diferença no processo de neutralização de pegadas. O Google, que é carbono neutro desde 2007 e tem a meta de ser carbon–free em 2030, também quer que seus parceiros se tornem mais sustentáveis.
Nesse sentido, cria ferramentas que medem e relatam as emissões relacionadas aos serviços em nuvem. A empresa também lançou uma plataforma, Environmental Insights Explorer, que disponibiliza dados úteis a mais de 3 mil cidades para diminuírem seus impactos ecológicos.
IoT atua na redução de pegadas de carbono
A IoT é outra tecnologia que pode ajudar empresas a reduzirem suas pegadas. De acordo com estudo da Ericsson, soluções de informação e comunicação, como IoT, têm o potencial de baixar o lançamento de gases efeito estufa em até 15% até 2030, além de aumentar a eficiência energética.
Outra empresa que conseguiu diminuir as emissões e alcançar maior eficiência energética com IoT foi a GE. A Digital Power Plant da empresa atingiu até 62,2% de classificação de eficiência energética com ciclo combinado.
Desafios do mercado de créditos de carbono
Investir no mercado de créditos de carbono, seja como comprador ou vendedor, é uma forma não só de se adequar a certas normas e regulamentações como, também, de atuar alinhado com o conceito de ESG.
No entanto, um desafio é tornar a prática consistente e constante, adaptando-se a mudanças desse mercado dinâmico. A tecnologia é uma das grandes aliadas de negócios que querem investir nessa tendência promissora. A Vivo Empresas dispõe de amplo portfólio de produtos e serviços, com soluções digitais como IoT, Cloud Computing e 5G, que fazem a diferença na medição e redução da pegada.
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