O que você precisa saber sobre Empreendedorismo Negro 

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O Brasil tem diversas qualidades. É berço de belezas naturais, pessoas incríveis e uma cultura rica. 

Mas infelizmente, o Brasil também é definido por sua desigualdade. E ela tem cor: preta. Segundo dados do IBGE, a renda média de trabalhadores de negros e negras no Brasil é de R$ 1.663, enquanto o salário dos brancos, de R$ 2.884. Uma desigualdade não reflete a população brasileira: um país com 54% de sua população negra.  

Boa parte desse triste dado está na história de segregação social e racial do país. E se espelha em diversas áreas, incluindo o empreendedorismo. 

Empreender é um sonho para muitas pessoas. Mas numa sociedade desigual, muitas vezes pode ser a única alternativa. Afinal, ter o próprio negócio é visto como símbolo de liberdade e independência, mas e quando nem todos começam a corrida do mesmo ponto de partida?  

Na leitura desse texto, te mostraremos alguns dados que mostram os desafios do empreendedorismo negro no Brasil e algumas iniciativas de impacto sobre o assunto. 

Gabriel Domingos, diretor de marketing de Vivo Empresas, recebeu Adriana Barbosa, CEO da Preta Hub no podcast Aproximando Ideias ! A empreendedora trouxe sua visão sobre o assunto e abordou os principais desafios da população negra que quer empreender. 

Os desafios do empreendedorismo para a população preta 

Dados da pesquisa global Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), mostram que o desafio é muito grande. 

O estudo relata que 62,3% dos adultos pretos e pardos sonham em ser donos do próprio negócio. Até aí, pode parecer animador. A questão é 53,3% dos empreendedores pretos e pardos com até 3,5 anos de negócio empreenderam por necessidade, contra 47% dos empreendedores brancos. 

Aqui, é preciso entender os três tipos de empreendedorismo: 

  • Empreendedorismo de Necessidade: Acontece quando o empreendedor decide iniciar um negócio como resultado de circunstâncias adversas, como a falta de emprego ou a necessidade urgente de geração de renda. É quando a pessoa não escolhe empreender por paixão ou vocação, mas sim por uma necessidade imediata de sustento.  
  • Empreendedorismo de Vocação: é a escolha consciente de iniciar um negócio com base nas habilidades, paixões e interesses pessoais do empreendedor. A motivação vai além da necessidade financeira imediata e está enraizada na vontade de realizar algo significativo e com valor. 
  • Empreendedorismo de Oportunidade: ocorre quando o empreendedor identifica uma lacuna no mercado ou uma oportunidade de negócio que pode ser explorada com sucesso, levando a pessoa a capitalizar oportunidades e inovações. 

Para Adriana, o fato da maioria do empreendedorismo negro ser por necessidade reflete a desigualdade social e racial: 

A população negra empreende desde o fim da escravidão. O Brasil tem mais de 300 anos de escravidão e mais de 136 anos de processo de abolição da escravidão. Quando teve o fim da escravidão, não houve um processo de inserção da população na sociedade. Foi muito na base do “se vira”, que se deu por uma perspectiva empreendedora. O fato de termos uma grande parcela de empreendedorismo por necessidade é reflexo desse processo de não inserção de negros na sociedade, e do recente acesso dessa população à graduação. – Adriana Barbosa 

Um dos desafios do empreendedorismo está relacionado a um desafio da sociedade como um todo: construir um futuro mais igual onde começar um negócio seja uma escolha de vida e para mudar o mundo, não uma decisão forçada pela necessidade. Afinal, o empreendedorismo nasce justamente da vontade de criar soluções para problemas do mundo vivido. 

E se as duas coisas: o empreendedorismo e a causa preta – fossem unidas? 

Empreender para mudar 

A pergunta que esse ponto da leitura levanta é: “como mudar?” 

Como mudar esse cenário de desigualdade que afeta nosso país e o empreendedorismo negro? 

Um dos pontos fundamentais da mudança é a existência de ações afirmativas para colaborar na luta contra a desigualdade, especialmente numa sociedade onde a disparidade histórica persiste, como o Brasil. 

Ações afirmativas reconhecem e abordam desigualdades históricas, oferecendo oportunidades para grupos que foram prejudicados no passado. São ações que o governo, empresas e até indivíduos promovem para fomentar a diversidade e criar condições igualitárias para todos. 

Um dos pontos levantados pela Adriana Barbosa, CEO da PretaHub, é o acesso. Ela diz que a internet contribuiu para fomentar mais conhecimento sobre o tema e permitiu que pessoas negras pudessem contar suas próprias histórias e se conectar com a comunidade. 

“A democratização da tecnologia e da inovação ajuda a nivelar o nível de conhecimento sobre o assunto. A primeira coisa que precisamos fazer é unir sociedade civil, governo e iniciativa privada e orquestrar uma ação em conjunto. Nada acontece de forma isolada. Cada um desses três fatores colabora em conjunto para formar pessoas, criar ações e depois levantar o dinheiro para essas ações.” – Adriana Barbosa 

Outro ponto de mudança é o empreendedorismo negro voltado para o ativismo. A criação de startups e iniciativas focadas na comunidade preta não apenas conecta pessoas, mas promove conhecimento e ajuda a dar oportunidades para essa população.  

No podcast Aproximando Ideias, Adriana relata sobre a importância de ter empresas e iniciativas que focam nesse público: 

O Brasil tem a maior população negra das Américas. Temos a segunda maior população negra do mundo. Essa população consome margarina, pasta de dente, tudo que é posto no mercado é consumido por essa população. Precisamos focar nesse público que consome e quer se ver nos produtos e em suas necessidades. – Adriana Barbosa 

O papel da tecnologia na mudança 

Com o desafio posto, como começar de forma prática a mudar a sociedade e transformar o empreendedorismo? 

Uma das respostas está na tecnologia. 

A adoção da internet permitiu que pessoas de diversos cantos no Brasil pudessem contar suas histórias e se conectar com um público imenso.  

Internet, infraestrutura, conhecimento e outras tecnologias podem fomentar o empreendedorismo negro. Eles proporcionam ferramentas, recursos e oportunidades para que essa população supere barreiras e consiga atingir novos públicos, bem como conquistar novos aliados para a causa.  

O o acesso à informação, com sites, hubs e outros ambientes dedicados ao empreendedorismo, oportunidades de negócios, financiamento e desenvolvimento de habilidades. Isso reduz a disparidade de informações que pode impactar negativamente os empreendedores negros. 

Outro fator que a conexão à rede proporciona é uma nova forma de conseguir crédito, como as plataformas de financiamento coletivo, que oferecem uma maneira alternativa de angariar fundos para empreendedores negros que podem ter dificuldades em obter financiamento e crédito. 

Tudo isso forma uma rede de suporte ao empreendedor.  

“Sempre digo que o empreendedor nunca começa sozinho. Ele precisa buscar informação. Hoje você tem vídeos tutoriais sobre como fazer planilhas, fluxos de caixa e muito mais informações. Tem muitas comunidades que apoiam o empreendedor, como associações comerciais, hubs de suporte. O empreendedor pode automatizar seu conhecimento com as tecnologias de IA (Inteligência Artificial)”, pontua Adriana. 

Uma coisa é certa: este é um longo caminho. 

Não será da noite para o dia que séculos de desigualdade serão superados. Mas a boa notícia é que o caminho rumo a um empreendedorismo mais igual para a população preta já começou a ser trilhado, e ele passa por propósito e tecnologia. 

Podcast Aproximando ideias | Episódio 1, Temporada 2 – Empreendedorismo Negro com Adriana Barbosa 

OUÇA! 

Até a próxima!

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