O futuro do aprendizado está atrelado à tecnologia na educação

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A pandemia está mudando a forma como o mundo entende o ensino – e as ferramentas digitais têm papel fundamental nisso

A tecnologia na educação nunca foi tão discutida. Com a pandemia e o fechamento das escolas, a transformação digital se tornou imprescindível para conectar alunos e professores e dar continuidade ao aprendizado.

Para tanto, foi preciso adotar em tempo recorde ferramentas e soluções de ensino online que fossem eficientes, seguras e que estivessem em conformidade com as regras estipuladas pelos governos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), mais de 80 países fecharam suas instituições de ensino para tentar conter a disseminação do novo coronavírus

A medida impactou mais de 776,7 milhões de crianças e jovens pelo mundo na educação básica.

Nesse contexto, o desafio do setor é conseguir trazer engajamento e aprendizado colaborativo.

Dessa forma, o distanciamento social abriu uma brecha digital para que novas abordagens pedagógicas com uso de tecnologias fossem adotadas. 

Ao mesmo tempo, escancarou os gaps mundiais de infraestrutura, repertório digital e formação de professores.


Um enorme gap na educação

Já ouviu falar de Digital Divide? Os especialistas usam esse termo da exclusão digital para abordar um conceito ainda da década de 1990, mas que não poderia ser mais atual.

No que tange a educação, temos alternativas online já muito eficazes, porém, que chegam somente aos que têm alta qualidade de acesso digital. A triste realidade está comprovada nestes dados: da população total global, menos de 60% está online.

Tanto que a Unesco e a Broadband Commission for Sustainable Development, da International Telecommunication Union (ITU), estabeleceram uma meta de conectar 75% das pessoas do mundo até 2025.

Na prática, essa disparidade pode ser facilmente encontrada pelo mundo. Enquanto os alunos de Hong Kong têm acesso a aulas virtuais em dispositivos digitais avançados, os estudantes de economias menos desenvolvidas, como os do Brasil, dependem do envio de lições e tarefas por WhatsApp ou e-mail.

Nesse contexto, a desigualdade socioeconômica acaba tornando o alcance educacional ainda mais distante. Em outras palavras, se o acesso à educação for ditado pelo acesso às tecnologias, que não chegam à maioria, poderemos nos deparar com um abismo socioeconômico ainda mais alarmante.

A educação atual está ultrapassada

Horas e horas na escola todos os dias, grade curricular engessada, provas escritas em papel, apostilas, carteiras enfileiradas nas classes… Esse padrão na educação já vinha sendo questionado e agora, mais do que nunca, está escancarado nos debates.

Sabemos que precisamos mudar o modelo, mas, antes, é necessário entender o que funciona melhor. E não devemos nos ater à procura por padrões que sirvam para absolutamente todo mundo.

A educação como conhecemos, que tem data para começar e terminar, não cabe mais nos tempos atuais.

É fundamental pensar em um aprendizado a longo prazo, que dure pela vida inteira, sem que se planeje um ponto final para os estudos em determinado momento.

A ideia é que, ao longo tempo, possamos adquirir mais e mais habilidades, substituindo as que deixamos para trás por não serem mais necessárias. Não faz sentido preparar um aluno para que ele seja um profissional formado em uma determinada função e a exerça para sempre.  

Precisamos aprender para poder traçar novos rumos

Já existem muitas iniciativas, dentro e fora do Brasil, que trabalham para traçar esses caminhos futuros. Concordamos que nunca foi tão urgente aposentar, pelo menos em parte, os velhos modelos de educação.

Não confiamos que todas as escolas passarão por uma mudança profunda de método. Entretanto, estamos vendo com a pandemia que muita coisa pode avançar com o uso da tecnologia na educação. Muitas das tarefas escolares podem ser resolvidas de forma online, muita coisa já está se transformando.

A verdade é que a função da instituição de ensino é a de um espaço de aprendizagem, de uma comunidade educadora que independe de presença física. Precisamos ressignificar presença e passar a desenvolver habilidades cognitivas mais complexas com colaboração e propósito.

Nesse sentido, o bom uso da tecnologia pode ser revolucionário, especialmente quando pensado para tornar o ensino mais personalizado, flexível, motivador e também mais inclusivo. Podendo analisar, criar, propor e revolucionar ambientes de aprendizagem de ensino superior e básico.

Certamente, a sala de aula continuará fazendo parte do aprendizado da humanidade, mas ela pede mudanças com urgência. E nós precisamos aprender, entender melhor o que é necessário fazer, o que deve ser transformado e como fazer isso. Seguimos aprendendo a aprender.

* Camila Achutti é referência na luta por mais mulheres na tecnologia, criadora do portal “Mulheres na Computação”,  fundadora da Mastertech e professora de Engenharia no Insper

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