A saúde animal é um tema que vem ganhando importância na sociedade, seja devido às questões climáticas ou à adoção do chamado consumo consciente de produtos derivados da pecuária. Nesse sentido, os avanços científicos se mostram ferramentas fundamentais para aliar produtividade ao bem-estar dos animais.
Vale comentar que, antigamente, as tecnologias eram usadas basicamente para automação de processos, redução de custos e aumento da eficiência. O objetivo era produzir alimentos que pudessem ser consumidos com segurança. Atualmente, há uma preocupação em saber como os rebanhos são criados e se há projetos de limitação de impacto ambiental.
Essa nova realidade exigiu mudanças no campo, onde é cada vez mais comum a utilização de soluções digitais. Nesse contexto, internet das coisas (IoT), big data e conectividade permitem, entre outros, monitorar doenças e regular a quantidade de ração ou de água de modo mais preciso. Isso evita desperdícios que afetam negativamente o meio ambiente.
Fica, assim, evidente que uma agricultura moderna e inteligente pode produzir mais, melhor e sem agressão à natureza e aos animais. O assunto é de extrema importância para quem tem um negócio rural. Neste artigo vamos ajudar a responder a diversas questões relacionadas ao tema:
- O que é saúde animal?
- O conceito já chegou ao Brasil?
- Qual o papel da tecnologia nesse contexto?
- Como o agronegócio pode se beneficiar?
- Quais exemplos de aplicabilidade, na prática?
- Existe relação entre tecnologia e sustentabilidade?
Saúde animal envolve criação humanizada

Uma das primeiras coisas a entender é que a saúde animal vai muito além da condição física em que se encontram os bichos. O conceito é amplo e envolve conforto desde o nascimento até o abate. Em resumo, é preciso fazer com que tenham uma vida saudável e, claro, sem sofrimento.
A origem do conceito se deu no Reino Unido, em 1965, quando o governo teve que dar uma resposta à demanda da sociedade que reagia ao livro da jornalista Ruth Harrison, “Animal Machines”. A publicação, de 1964, relatou um sistema perverso na pecuária e avicultura britânica, onde os bichos eram vistos apenas como mercadoria e submetidos a uma vida de penúria em prol da produção desenfreada.
A obra causou um impacto profundo na opinião pública. Um ano após sua publicação, o ministério da agricultura inglês reuniu pesquisadores e profissionais do setor para criar o chamado “Comitê Brambell”, cujo objetivo era estudar mais profundamente o assunto, além de desenvolver diretrizes de boas práticas para o setor.
O resultado foi a redação do relatório Brambell, que estabeleceu cinco princípios para o bem-estar animal: todos têm o direito de “levantar-se, deitar-se, virar-se, limpar-se e esticar os membros”. Os espécimes das fazendas produtoras precisam ficar livres de fome, sede, desconforto e dores, e deveriam poder expressar seu comportamento natural.
Essas regras ficaram conhecidas como “As Cinco Liberdades de Brambell”, em homenagem ao professor que presidiu o comitê, Francis Brambell. Ao longo dos anos, o relatório foi sendo aperfeiçoado, mas a essência permanece a mesma: a saúde dos bichos deve incluir seu estado físico e mental, além de envolver tratamento humano e ético.
Padrões de bem-estar foram replicados no mundo todo
O relatório britânico foi um marco, pois influenciou legislações em todo o mundo, sendo adotado inclusive pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Em 1966, nos Estados Unidos, com base nas cinco liberdades, foi assinada legislação federal Animal Welfare Act (AWA), criando regras para garantir que não tivessem tratamento cruel tanto no âmbito do entretenimento quanto na indústria agrícola. Em 1978, em Bruxelas, a Unesco lançou a primeira Declaração Universal dos Direitos dos Animais, considerando que todos deveriam ter direito a uma vida digna.
No Brasil, o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 veda que os bichos sejam submetidos a condições de crueldade. Já a Instrução Normativa 113, publicada em dezembro de 2020, trouxe uma contribuição importante ao detalhar as boas práticas de manejo e conforto nas granjas de suínos de criação comercial. Entre as medidas que os produtores devem tomar estão o estabelecimento de espaços compatíveis com a quantidade de espécimes, além de implementação de técnicas que reduzem estresse e dor.
É importante destacar que existe no Brasil a Coordenadoria de Boas Práticas e Bem-estar Animal (CBPA), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e que tem a responsabilidade de fiscalizar e promover hábitos humanitários e éticos na agropecuária. Há também uma série de normas estaduais e municipais que regulam o assunto em solo brasileiro.
Tendo em vista esse quadro, fica evidente que a preocupação com a saúde animal é mais do que uma atitude altruísta. Ficar à margem dessa realidade só traz desvantagens para os negócios.
Tecnologias combinam aumento de produtividade com saúde animal
Os produtores rurais, muitas vezes ligados às práticas tradicionais do campo, podem ficar na dúvida quanto à implementação de políticas de saúde animal em toda a escala produtiva. No entanto, as soluções digitais são aliadas no que diz respeito à conforto dos espécimes e às normas de bem-estar.
A agricultura de precisão, por exemplo, vem transformando a agropecuária nos últimos anos, pois permitiu automatizar muitas tarefas que antes exigiam a intervenção humana. Sensores podem medir uma série de variáveis relacionadas ao gado e ao ambiente. Esses dados são levados ao computador e, com ajuda da análise de dados, indicam decisões a tomar no manejo do rebanho.
Geralmente, as fazendas de escala industrial podem transmitir a ideia de que implementam novas tecnologias objetivando apenas produtividade e lucros. Porém, não é bem assim, muitas empresas já entenderam que os animais são seu ativo mais importante e a saúde deles é essencial para o aumento da eficiência produtiva. Vacas saudáveis produzem mais leite, galinhas criadas sem confinamento botam ovos de melhor qualidade.
Dessa forma, se o implemento de tecnologia garantir uma porcentagem maior de suínos ou aves saudáveis que podem ir para o mercado consumidor, o agricultor estará ao mesmo tempo, aumentando os lucros e melhorando o bem-estar das criações. As soluções digitais, portanto, são aliadas nesse processo.
Exemplos de uso da tecnologia em favor dos animais
É fato que ter um controle mais eficiente sobre a produção usando a tecnologia pode contribuir para manter os animais em condições ideais, sem sofrimento.
É claro que apenas o uso de soluções digitais não basta, é preciso que o agricultor mergulhe de cabeça na transformação da sua cadeia produtiva. Para isso, não faltam opções na indústria, como podemos ver nos exemplos a seguir.
Pecuária de corte
O rebanho pode ser monitorado por meio de câmeras fixas ou drones agrícolas, que reúnem informações em um banco de dados e, via algoritmos, encontram possíveis doenças e até parâmetros comportamentais.
Esse controle à distância impede que o animal seja confinado para estudo, evitando contato humano e, consequentemente, menos estresse. Já existem sensores, por exemplo, capazes de identificar o cio ou até mesmo se uma vaca está em iminência de trabalho de parto.
No Brasil, onde há produção extensiva de gado, essas soluções remotas permitem que se controle os rebanhos 24 horas, 7 dias por semana. Com ajuda de recursos digitais envolvendo inteligência artificial, IoT e 5G, os dados são rastreados e analisados por meio de aplicativos instalados até em smartphones. Esse tipo de tecnologia torna possível um tratamento veterinário individualizado.
Produção leiteira
A identificação eletrônica das vacas na produção leiteira é um exemplo de como a tecnologia aumenta a produtividade sem prejudicar o conforto da criação. Os dispositivos conseguem apontar mudanças de comportamento dos espécimes que podem indicar doenças, auxiliando, dessa forma, no início rápido dos tratamentos porventura necessários.
Além disso, fazendas de laticínios automatizadas permitem que as vacas sejam ordenhadas sem interação humana e no seu próprio tempo, entrando e saindo das baias quando desejarem.
No Brasil, a Nestlé, com o projeto Cowsense, passou a usar inteligência artificial para medir a qualidade do leite e o nível de felicidade dos animais. Já a produtora leiteira Arla, da Finlândia, criou um aplicativo que reúne dados sobre a limpeza, saúde e conforto para que os clientes tenham certeza que as condições de vida dos rebanhos são boas. Todas as informações podem ser acessadas a partir de uma numeração na caixa de leite.
Criação de suínos
A suinocultura pode se beneficiar também pelos sistemas de imagem. Mudanças na posição do rabo alertam para surtos de mordidas na cauda, um problema grave nesse tipo de criação. Além disso, microfones podem ser instalados para identificar o nível de estresse por meio de sons, bem como possíveis doenças pulmonares.
Outra tecnologia usada são os mecanismos automatizados de limpeza, que ajudam a remover os dejetos de forma eficaz e rápida. As vantagens são evidentes, pois os bichos ficam menos tempo em contato com as fezes. Para o agricultor, elimina a necessidade de mão de obra para a tarefa e limita ao máximo a interação humana com os resíduos animais.
Avicultura
O Brasil é um dos principais produtores mundiais de frango e o setor é um dos que mais recebe críticas sobre o bem-estar animal.
Usar tecnologias que indiquem o tamanho ideal de espaço para a quantidade de galinhas é uma das medidas que beneficiam todos os envolvidos nessa cadeia produtiva. Com tais recursos, há redução de mortalidade e uma melhoria na qualidade da carne, pois as criações ficam menos estressadas.
Um ambiente controlado por câmeras e sensores permite identificar lesões e crescimento abaixo do esperado. Aves menores, com baixo peso, podem ter dificuldade de acessar os repositórios de água e comida.
Com essa questão em vista, a empresa francesa Octopus Robots projetou robôs para prevenir doenças e infecções em aviários. Já a Metabolic Robots desenvolveu, especificamente para o setor, mecanismos inteligentes que aumentam a eficiência alimentar.
Automação promove sustentabilidade e saúde animal

A agropecuária é normalmente considerada vilã quando se coloca na mesa assuntos como emissão de carbono e mudanças climáticas. No entanto, as práticas agrícolas não precisam ser inimigas da natureza, sobretudo se usarem a seu favor tecnologias inovadoras de automatização de processos.
A pecuária de precisão é um exemplo de como os recursos tecnológicos estão ajudando a inserir o setor no rol de atividades sustentáveis. Ao usar a gestão inteligente da saúde do animal ou a nutrição exata, os produtores podem estabelecer quantias ideais de alimentos, evitando desperdícios.
Uma produção automatizada, com uso inteligente de dados, é capaz de identificar doenças de forma precoce e reduzir a aplicação de antibióticos. Além disso, a adoção de bebedouros automáticos pode diminuir o desperdício de água.
Mudanças exigem bom planejamento
Há um grande campo de trabalho no mercado brasileiro em relação à saúde do animal, combinado com práticas sustentáveis e digitalização das fazendas. Um dos desafios é implementar tecnologias de conectividade em áreas remotas de forma a abranger toda a cadeia produtiva que, no País, é enorme.
Somos o maior exportador de carne bovina do mundo: 2,2 milhões de toneladas em 2020, segundo levantamento da Embrapa, o que representa 14,4% do mercado internacional. O estudo também mostrou temos 1,5 bilhão de galinhas no setor produtivo, o que nos coloca em quarto lugar no ranking. No que diz respeito aos suínos, estamos na terceira posição, com 41 milhões de espécimes.
É preciso, sobretudo, entender que as práticas sustentáveis colaboram para além da melhora na produtividade e lucratividade. Como há cada vez mais preocupação com a origem dos produtos que vão à mesa, a prática do consumo consciente só aumenta. As empresas que desejarem manter competitividade devem procurar se adaptar aos novos tempos.
Implementar algumas tecnologias inovadoras pode não ser muito custoso ou complexo, mas vai exigir mudança em práticas tradicionais e um bom planejamento. Por isso, os produtores devem sempre estar atentos ao que existe no mercado e será útil para o seu negócio. A Vivo Empresas pode ajudar, oferecendo um portfólio completo de soluções que atuam na digitalização do agronegócio.
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Até a próxima!